quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Ponto Negro



por Josué Gonçalves

Certo dia, um professor entrou na sala de aula e disse aos alunos para se prepararem para uma prova relâmpago. Todos se sentiram assustados com o teste que viria.
O professor entregou então, a folha com a prova virada para baixo, como era de costume...
Quando puderam ver, para surpresa de todos, não havia uma só pergunta ou texto, apenas um ponto negro no meio da folha.
O professor analisando a expressão surpresa de todos, disse: - Agora vocês vão escrever um texto sobre o que estão vendo.
Todos os alunos, confusos, começaram a difícil tarefa. Terminado o tempo, o professor recolheu as folhas, colocou-se na frente da turma e começou a ler as redações em voz alta.
Todas, sem exceção, definiram o ponto negro tentando dar explicações por sua presença no centro da folha.
Após ler todas, a sala em silencio, ele disse: - Esse teste não será para nota, apenas serve de aprendizado para todos nós.
Ninguém falou sobre a folha em branco. Todos centralizaram suas atenções no ponto negro. Assim acontece em nossas vidas. Temos uma folha em branco inteira para observar, aproveitar, mas sempre nos centralizamos nos pontos negros.
A vida é um presente de DEUS dado a cada um de nós, com extremo carinho e cuidado. Temos motivos pra comemorar sempre. A natureza que se renova, os amigos que se fazem presentes, o emprego que nos dá sustento, os milagres que diariamente presenciamos.
No entanto, insistimos em olhar apenas para o ponto negro. O problema de saúde que nos preocupa, a falta de dinheiro, o relacionamento difícil com um familiar, a decepção com um familiar, a decepção com um amigo. Os pontos negros são mínimos em comparação com tudo aquilo que temos diariamente, mas são eles que povoam nossa mente.
Tire os olhos dos pontos negros da sua vida. Aproveite cada benção, cada momento que Deus lhe dá. Creia que o choro pode durar até o anoitecer, mas a alegria logo vem no amanhecer. Tenha essa certeza, tranquilize-se e seja feliz!!!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Páscoa, uma celebração familiar!

PÁSCOA, UMA CELEBRAÇÃO FAMÍLIAR
Gilson Bifano

A Páscoa se aproxima. Época para o comércio levantar recursos financeiros. O comércio precisa disso. Se não fossem essas datas especiais, muitos não poderiam ter seus empregos e a economia sofreria. O problema é que muitas vezes, a forte ênfase no chocolate, no coelhinho, no pescado desvia nossa atenção e perdemos a beleza dos significados bíblicos dessa data.

Quando abrimos a Bíblia e lemos os textos a respeito da Páscoa (Ex 12.1-13; 21-27; 43-49; Dt 16.1-8) podemos verificar, especialmente no livro de Êxodo, a presença da família nessa festa judaica.

Nas ordens dadas por Deus a Moisés e a Arão, o critério para o sacrifício é que cada família deveria ter o seu próprio cordeiro pascal (Ex 12.3,21). A primeira Páscoa, conforme o relato de Êxodo, a adoração, deveria ser familiar. Mais uma vez podemos notar o desejo de Deus em ser adorado, em primeiro lugar, no íntimo de cada casa, de cada lar, de cada família (Ex 12.46). Procure fazer isso nessa Páscoa com sua família. Quando Jesus celebrou a Páscoa com seus discípulos, como uma família, foi numa casa (Mt 26.18). O espírito de culto comunitário estava presente (Ex 12.6), mas através de cada família israelita.

Havia também um espírito de comunidade, de entrelaçamento das famílias, de comunhão. Caso uma família fosse pequena para comer um animal inteiro, a ordem era procurar a família mais próxima e juntas desfrutarem da comunhão (Ex 12.4). Deus, ao salientar esse detalhe, estava demonstrando o Seu desejo de que as famílias tivessem comunhão, que houvesse um espírito de solidariedade e de compartilhamento. Há estudos que indicam que famílias fortes procuram manter o espírito comunitário. Não se fecham em si mesmas. Estão sempre abertas para repartir, doar, compartilhar. Quem sabe sua família poderia convidar uma família carente para passarem juntos a Páscoa. Uma outra sugestão: convide uma pessoa que more sozinha. Quem sabe um solteiro, uma pessoa que esteja enfrentando a dor do divórcio, uma viúva.

Páscoa também nos lembra livramento familiar. Ao sacrificarem o cordeiro, as famílias deveriam passar um pouco de sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas da casa (Ex 12.7). Neste texto vemos o cuidado de Deus para com as famílias israelitas no Egito. Deus tinha um propósito em preservá-las, como iremos observar no próximo tópico. Nessa Páscoa, procure agradecer a Deus pelo cuidado, pela proteção que Ele tem tido para com sua família. Vivemos dias tão violentos que agradecer a Deus por cada dia vivido deve ser um exercício contínuo, individual e familiar.

Por último, Deus instituiu a Páscoa para que fosse, para sempre, um instrumento de propagação da fé. E isso deveria acontecer em família! Falar do amor, da bondade, da misericórdia e do cuidado de Deus às gerações futuras é tarefa, em primeiro lugar, da família! O relato bíblico diz: "Quando os seus filhos lhes perguntarem: 'O que significa esta cerimônia?', respondam-lhes: É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou sobre as casas dos israelitas no Egito e poupou nossas casas quando matou os egípcios" (Ex 12.26,27 NVI). A comemoração da Páscoa seria um instrumento pedagógico para falar aos filhos e netos sobre a bondade e fidelidade de Deus. Nesta Páscoa não perca a oportunidade de falar para os seus filhos e netos sobre a bondade de Deus. Fale que em várias passagens da Bíblia Jesus é apresentado como um Cordeiro (Jo 1.29; Ap 4.6). Que Ele, Cristo, é o nosso Cordeiro pascal (1 Co 5.7).

Não é pecado, na minha opinião, comprar um ovo de páscoa para os seus filhos. Se quiser, mande um para nós do Ministério OIKOS. Não é pecado comer um bom bacalhau (um dos meus pratos favoritos). Não foi meu propósito discutir se a Páscoa é uma data que os cristãos devem comemorar ou não.

Nosso propósito foi mostrar que a primeira Páscoa foi muito centrada na família e extrair lições importantes às famílias hoje.

Coma chocolate (que gostosura!), se puder! Saboreie um bom bacalhau (Ah, que delícia!), mas não se esqueça do papel da família na primeira Páscoa e que Jesus, o Cordeiro de Deus, foi sacrificado pelos nossos pecados.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pastor, Como Você Desenha Deus?


Talvez o pastor não saiba, mas ele é um pintor. Ele pinta um desenho para a sua congregação, e a partir desse desenho a congregação forma uma imagem mental do Deus altíssimo. Mais ainda, há o risco de a congregação conhecer Deus exclusivamente através desses desenhos.

É pela postura pastoral no púlpito que há a criação de uma representação social de Deus a partir da própria visão pastoral.

Com isso, quer se dizer que o ministro seleciona, ressalta, exclui, distorce, nega ou cria características divinas de acordo com suas características pessoais.

Estranho isso? Sim. Por isso nosso desafio em oração deve ser: “Senhor, afasta-me de mim mesmo a cada dia e assemelhe-me cada vez mais ao Mestre para que eu possa pregá-lo com fidelidade aos meus irmãos”.

Desenhamos o que aprendemos a desenhar desde pequenos

A postura pastoral tem muito a ver com a posição teológica, o histórico pessoal do pastor e da sua relação pessoal com Deus.

Sua arquitetura ministerial está relacionada a experiências próprias do pastor com Deus, às teorias teológicas, à sua infância e história de vida, aos traumas e à personalidade.

Todos esses fatores podem representar fontes de distorções perceptivas baseadas em traumas, personalidade, dons, histórico de vida, aprendizagem primitivas, relacionamento com Deus e posição teológica. Eis um desafio pastoral: Lapidar-se para assemelhar-se a Cristo. Um desafio de todos, sem exceção.

Deus é o ser infinito e complexo, mas tem seus traços selecionados e sublinhados de acordo com essas características pastorais. Com isso, o Deus das ovelhas corre o risco de ser o Deus desenhado pelo pastor de acordo com suas características, histórias de vida e postura teológica.

Assim, o perfil de líderes forma um perfil ministerial que estabelece um perfil de igreja e de ovelhas de acordo com o histórico pessoal de vida. Para amenizar os efeitos negativos disso, só a vida cheia de oração, disciplina nos estudos das Escrituras, autoavaliação ministerial, autocorreção pessoal e ministerial, introspecção com ajuda do Espírito, coragem para ouvir críticas, humildade para não misturar os próprios desejos como sendo desejos divinos, dentre outras posturas pastorais para garantir a fidelidade da mensagem.

Tudo se agrava se o ministério pastoral passa a imagem de que só através dele há relacionamento entre as ovelhas e Deus.

Caso este seja o caso, haverá consequências negativas para a congregação local e para o Reino.

As distorções psíquicas provocam as distorções teológicas, mas somente pela humildade e disponibilidade constante para a autoavaliação espiritual com o Espírito Santo é que o pastor diminui esse fator constituinte de qualquer personalidade humana.

Contudo, um fator de impedimento é a ideia equivocada de autoridade divina inquestionável diante da congregação. Se houver uma concepção de que autoridade não se equivoca, não se corrige, não se retifica e não volta atrás, pode ser sinal de um distúrbio de personalidade megalomaníaca e narcisista processando de forma equivocada o conceito de autoridade.

Tal postura pode imobilizar, e não mobilizar, o pastor na sua busca pelo crescimento no conhecimento na graça de Cristo. Nesse caso, uma psicopatologia impede a santificação.

Querido pastor, cuidado com o que você desenha de Deus. Pois é justamente essa imagem que será absorvida pelas suas ovelhas. Se o pastor não estimula a autonomia doutrinária e o autodidatismo, as ovelhas tendem a ser formadas subjetivamente.

Crê-se biblicamente, inclusive, que a relação pessoal das ovelhas com Deus e com a Bíblia produz mais crescimento e frutos a partir de uma relação direta entre criatura e criador.

A falta de autonomia no conhecimento divino proporciona algumas consequências psicológicas e ministeriais negativas para o pastor. Podem-se citar algumas delas.

Primeiro cria ovelhas dependentes tanto espirituais quanto ministeriais. São pessoas que não bebem direto da fonte e são pouco hábeis em resolver seus problemas ministeriais e em promover a santificação. São discípulos que constantemente dão problemas aos pastores e que aprendem muito, mas nunca chegam ao conhecimento da verdade e ou à uma estabilidade espiritual.

Segundo, há o risco de os pastores criarem uma relação parasitária com suas ovelhas, o que possibilita mais estresse e problemas ministeriais a serem resolvidos. Sem poder de autonomia e proatividade, as ovelhas se perdem e se acham inseguras para resolverem qualquer problemática.

Em último e o mais importante, o crescimento departamental da igreja fica arrastado. Consequentemente, a formação de novos discípulos e o crescimento do Reino ficam comprometidos. Ovelhas sem autonomia são discípulos que não dão passos com as próprias pernas e que não visualizam oportunidades e se estagnam em suas funções e características pessoais.

Nosso desafio é um curso de desenho com o Arquiteto do mundo

O desafio está, portanto, em discernir a visão divina dos próprios desejos e intentos para a igreja. Isso se consegue a partir do crivo bíblico neotestamentário, onde Cristo é a chave hermenêutica do Novo Testamento, e este, por sua vez, do Velho Testamento. Ao contrário da postura veterotestamentária de exclusividade de relação profeta-Deus.

Logo, para conferir às ovelhas autonomia no conhecimento de Deus, o pastor precisará de 3 posturas.

Primeiro, um estímulo direcionado da autonomia devocional de suas ovelhas. O pastor precisará demonstrar para suas ovelhas a vantagem de praticarem suas devocionais, seus estudos, sua relação com Deus, suas orações e tudo o mais. As ovelhas deverão ser desafiadas a produzir santidade e obras e frutos do Espírito Santo.

Em segundo lugar, o pastor precisará pensar em longo prazo. Desenvolver autonomia nas ovelhas não é tarefa para meses, mas sim para anos. É um investimento estratégico através da EBD, do púlpito, dos aconselhamentos e da escolha correta de líderes discipulados que vão garantir o sucesso nesse empreendimento de conferir autonomia espiritual às ovelhas.

Por último, o pastor precisará acreditar na vantagem disso, até porque é bíblico. Cristo veio possibilitar aceso direto ao Pai por intermédio Dele. Por que então se fazer de profeta e, como no Velho Testamento, intermediar a relação espiritual entre as ovelhas e Deus? As ovelhas precisam ser doutrinadas e enviadas diretamente à fonte. Não é só do pastor que se bebe a água da vida. Ele não é poço, mas muitos líderes pecam nesse erro dramático que cria relações parasitárias entre ele e suas ovelhas.

Paulo disse para sermos seus imitadores, assim com ele era de Deus. Nunca vi a seguinte vertente de interpretação exegética, mas o sentido mais correto seria não somente imitar o que Paulo faz, mas imitar para onde ele olha, ou seja, para o Mestre. O que devemos imitar não são as atitudes de Paulo, mas o que ele faz, que é imitar o Mestre.

Portanto, devemos autoavaliar constantemente nossos desenhos Divinos antes de oferecê-los para as ovelhas. Deve-se, acima de tudo, estimulá-las a serem desenhistas por elas mesmas a fim de alcançarem um grau cada vez maior de conhecimento e crescimento espiritual. Só assim o Reino poderá crescer, e se multiplicar, cumprindo melhor a função do Ide através de soldados mais bem preparados para o século XXI.

terça-feira, 15 de março de 2011

Até que me provem o contrário, somos hipócritas


Por favor, não me tenha por agressivo. O que descrevo nas linhas abaixo é apenas o retrato em preto e branco daquilo que realmente somos. Em minha já longa estrada é o que mais vejo no meio religioso. Até os verdadeiros santos admitem que são hipócritas. Somos o nosso próprio arquétipo. Mas se você é daqueles que "já alcançou grau elevado" acima dos simples mortais siga adiante e nem se dê ao trabalho de ler o texto. Ele foi escrito para os que estão na terra, os que choram pelas suas graves deficiências, os que não gostariam de ser o que são, cheios de falhas, mas ao mesmo tempo se encantam quando se veem abraçados pela graça, que os eleva à condição de pecadores maltrapilhos assentados à mesa no banquete do Grande Rei. É para esses, incluindo a mim, que o texto foi escrito, não para você.

Somos hipócritas quando usamos o nosso verdadeiro perfil nas redes virtuais para "vender" credibilidade, mas não nos causa nenhum asco usar "fakes" de toda ordem para expor a podridão do nosso coração.

Somos hipócritas quando em nossos discursos aparentamos usar e enaltecer a graça, mas, ao contrário, em nossa prática valorizamos com desavergonhada idolatria o sistema religioso.

Somos hipócritas quando usamos a fé em nossos mais diversos relacionamentos para ganhar a confiança, mas, na verdade, o nosso interesse é mesmo construir um reino estritamente pessoal.

Somos hipócritas quando exteriormente demonstramos simpatia por alguém, até com um sorriso maroto nos lábios, enquanto, por dentro, o nosso autêntico desejo é comer-lhe o fígado.

Somos hipócritas quando vestimos uma roupa que não nos cabe e nem nos pertence e queremos com isso que as pessoas acreditem que somos aquilo que não somos.

Somos hipócritas quando usamos a graça como desculpa para pecar, mas não nos submetemos a ela para resistir ao pecado.

Somos hipócritas quando dizemos alto e bom som que os nossos feitos são para a glória de Deus, mas nossa linguagem, em sua mais arguta sutileza, demonstra que, no fundo, são mesmo para a nossa glória.

Somos hipócritas quando criticamos o comercialismo sem escrúpulo que grassa desavergonhadamente no meio evangélico, mas adotamos ao mesmo tempo, ainda que em menor escala, o mesmo comportamento, como "caixeiros-viajantes" pelo país.

Somos hipócritas quando nos tornamos a palmatória do mundo em nome de aparente santidade, mas na verdade isso não passa de biombo para esconder as próprias fragilidades.

Somos hipócritas quando, para demonstrar zelo pela Casa de Deus, não nos constrangemos em expor os "grandes" pecados alheios, enquanto em nossa vida pessoal nos olvidamos dos "pequenos" pecados, que praticamos cada dia.

Somos hipócritas quando desprezamos a integridade e passamos a defender o erro em nome de suposta fidelidade.

Somos hipócritas quando, para aparentar nobreza de caráter, subjugamo-nos à lei, vilipendiamos a graça e, por causa disso, alimentamos cada vez mais o nosso complexo de culpa.

Somos hipócritas quando, em nome de suposta educação, deixamos de ser o que somos com o temor de nos tornarmos desagradáveis.

Somos hipócritas quando, em nome de interesses próprios, abrimos mão de convicções espirituais para receber benefícios de uma circunstância.

Somos hipócritas quando em nossa itinerância tornamos a nossa pregação mecanicista, como se fosse o mero repetir de uma gravação, simplesmente para agregar valor ao "produto" que vamos vender ao final da reunião.

remédio contra a hipocrisia? Ela é parte de nossa natureza, que abriga também outros sentimentos nada confortáveis. Lutar contra a hipocrisia em nossa força carnal de nada adianta. Submetê-la ao legalismo da opressão religiosa só faz aprofundá-la. Nosso conforto é simplesmente submeter-nos sem reservas à bendita e doce graça do nosso amado Jesus para que ela seja a força motriz a moldar o nosso caráter e para onde possamos correr todas as vezes em que a hipocrisia, ou qualquer outro maléfico sentimento, aflorar em nossos relacionamentos. Se você é honesto, há de concordar que isso ocorrerá com certa frequência, mas a graça estará ali como o seu abrigo nas horas do fracasso. Chegará um tempo em que esses sentimentos já não terão domínio sobre o seu coração, ainda que vez ou outra queiram manifestar as suas unhas afiadas.

Mas, por favor: não se sobreponha à graça. Ela é suficiente.

O galo velho e o galo novo


Na fazenda do Sr. Arlindo não havia grandes plantações, mas no terreiro, atrás da casa, tinha uma vasta criação de galinhas, que dava gosto de ver. Os ovos eram uma beleza! Não como esses que se encontram nas granjas e aviários, mas aqueles de gema amarelinha, saborosíssimos.

O "Seu Arlindo" tinha inúmeras galinhas, mas um só galo. Era o velho Bastião, que reinava soberano no terreiro, já com muitos anos de bons serviços prestados.

Tudo corria em muita paz, até que chegou na fazenda um galo jovem, de bico grande, chamado Fincudo. É claro que o "clima" não tardou a ferver.

Bastião e Fincudo não podiam nem se ver. Ainda que as galinhas fossem muitas, cada um dos galos queria reinar com absoluta soberania, o que significava que um dos dois tinha de partir. Em diálogo, nem pensar! A coisa tinha de ser resolvida na força, numa "briga de galo".

A briga foi ferrenha. Os dois se "pegaram" na porta do galinheiro e foram se bicando e pulando de um canto a outro do terreiro. As galinhas cacarejavam loucamente para todo lado. A confusão era total, até que algum tempo depois, o velho Bastião, já cansado, deu-se por vencido.

Fincudo era só orgulho. Deu uma olhada de ponta a ponta no terreiro e sua crista estava mais em pé do que nunca. Um momento de conquista como esse tinha de ser comemorado "em grande estilo". Nada mais adequado do que cantar de galo, lá de cima do telhado.

Fincudo subiu em cima da cerca, de lá pulou para o telhado da varanda, que era mais baixo e, não satisfeito, de lá voou para o alto do telhado principal da sede da fazenda. O jovem galináceo estufou o peito e soltou: "Có có có có!"

O som foi tão alto que chamou a atenção de um gavião que voava por perto. A ave bateu forte suas asas e, num vôo rasante e fulminante, arrebatou Fincudo do telhado, levando-o em suas garras possantes.

E lá se foi o pobre galo, infeliz, para ser devorado, não se sabe onde, enquanto o velho Bastião reassumia suas funções novamente.

A fábula do galo Fincudo mostra, em sua simplicidade, uma lição de incalculável valor:oque se exalta,será humilhado.


Autor: desconhecido

terça-feira, 1 de março de 2011

"Não Aconselho Ninguém A Fazer Tatuagem”, diz Rodolfo Abrantes

“Hoje eu não faço mais tatuagem e não aconselho ninguém a fazer”. Poucas pessoas associariam essa afirmação a Rodolfo Abrantes.

Com os braços quase cobertos por tatuagens, muitas do período em que atuou como vocalista da banda secular Raimundos, e a imagem de um candelabro tatuada no pescoço, feita após sua conversão, o músico conta que tatuar-se era algo habitual: “Quando eu me converti, eu continuei fazendo tatuagem porque já fazia muito e eu confesso que não sentia muita paz nisso. Durante meu processo de conversão, senti Deus falar comigo que eu não precisava mais daquilo.

Quando decidi parar, senti muita paz. Desde então, nunca mais fiz tatuagem alguma. Quando eu continuei me tatuando depois de convertido, só transferi uma coisa que eu já era para dentro da minha nova vida. E realmente eu não precisava mais disso”. Em entrevista ao Portal Guia-me, Rodolfo expressou o que pensa hoje sobre tatuagem: “Na real, eu acho que tatuagem é uma grande ‘duma vaidade”.

“As pessoas dizem: ‘Eu vou para Jesus, mas eu vou levar tudo o que eu gosto’. Mas têm certas coisas que talvez Deus queira simplesmente tirar do teu coração. Eu interpreto da seguinte forma: quando eu senti que era Deus falando comigo, que era para eu parar de fazer tatuagem, creio que era uma ordem simples, que se eu conseguisse obedecer, eu conseguiria obedecer a ordens maiores também. Eu cumpri e senti uma paz tremenda. Toda vez que eu obedecer a Deus, vou sentir Paz”, explica o cantor.


Vista como forma de expressão, símbolo de rebeldia e juventude, a tatuagem possui diferentes estilos, que vão do tradicional ao maori, estilizado, psicodélico, religioso, tribal, entre outros.

Seus temas variam tanto quanto as personalidades das pessoas que as fazem. As imagens escolhidas podem ser definidas pelo contexto histórico, influências musicais, modismos, ideologias e crenças.

Crenças que chegaram à igreja e dividem opiniões. Aceita por algumas denominações e pastores, condenada por igrejas e lideranças, a “tatoo” divide opiniões até mesmo em interpretações de trechos bíblicos, como o de Levítico 19:28 – “Não fareis lacerações na vossa carne pelos mortos; nem no vosso corpo imprimireis qualquer marca. Eu sou o Senhor”.


Para o professor de teologia Carlos Vailatti, o versículo faz parte de um contexto maior, um “código de santidade”: princípios para demonstrar ao povo de Israel elementos indispensáveis ao relacionamento com Deus. Na opinião de Valilatti, é importante destacar também a palavra ‘marca’: “Esta palavra é derivada do hebraico qa´aqa´, cujos significados básicos são: ‘incisão, tatuagem’.

Já na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento hebraico – datada do III século a.C.), a palavra ‘marca’ é a tradução do grego stikta, palavra esta derivada do verbo stizo, ‘fazer um sinal com um instrumento agudo ou candente; pintar, tatuar; fazer sinais com golpes’ [...] Deus não quer que Israel pratique esses hábitos pagãos e se comporte como as demais nações que vivem ao seu redor. Deus quer que Israel seja uma nação santa, isto é, uma nação separada para servi-lo e que tenha um estilo de vida diferente das demais”.

Para o teólogo, o trecho inicial do versículo de Levítico 19:28, relaciona-se a 1 Reis 18:28: “No confronto entre Elias e os adoradores de Baal no monte Carmelo, onde vemos que estes últimos ‘se retalhavam com facas e com lancetas, conforme o seu costume, até derramarem sangue sobre si”.


No entanto, Sandro Baggio, líder do Projeto 242, igreja que há mais de dez anos trabalha com pessoas da cultura alternativa e dedica-se a missões urbanas, entende que o trecho de Levítico não pode ser aplicado à tatuagem. “Trata-se de uma lei específica direcionada a um povo em particular.

Aqueles que querem aplicar essa lei para o contexto de hoje (usando este versículo para proibir as pessoas de fazer tatuagem) precisam estar dispostos a aplicar também os versículos anteriores que proíbem vestir roupas de tecidos diferentes, plantar sementes de diferentes espécies no mesmo jardim e aparar a pontas do cabelo e da barba. As pessoas não estão fazendo tatuagem por causa de qualquer ritual relacionado a mortos, mas como expressão estética”, explica o líder.


Baggio fez a primeira tatuagem em 1988, logo após sua formação no seminário teológico. Para ele, tatuar-se é uma forma de expressão corporal e cultural: “Antes era particular de alguns povos e culturas, mas como o mundo se tornou uma aldeia global, a tatuagem (assim como outras expressões culturais) ganhou espaço nos mais diversos meios e contextos.

A única diferença entre fazer uma tatuagem e uma pintura ou mesmo corte de cabelo é que a tatuagem tem uma característica mais permanente e não pode ser removida facilmente. Portanto, exige-se que se pense muito mais antes de se fazer uma tatuagem do que, por exemplo, antes de tingir os cabelos ou fazer dreads neles”.


Símbolo de Rebeldia?


Tatoo, do taitiano tatau, significa marcar. O nome foi dado por James Cook, o capitão inglês que descobriu o surfe e, em 1769, ficou admirado ao chegar ao Taiti e ver a população local coberta de desenhos em vez de roupas. A população da região era conhecida como maohis, ou maoris na Nova Zelândia, povo que tatuava-se em rituais ligados à religião.

As imagens significavam status e poder, marcavam a passagem da infância para a maioridade, ou contavam as histórias da família e da tribo. Mas, os primeiros registros de pigmentação com tintas sobre a pele remetem há pelo menos 5 mil anos. No Egito, também foram encontradas múmias tatuadas, que datam do período entre 4000 e 2000 a.C.


Na América,,tatuar-se também era prática das civilizações maia e asteca. No Japão feudal, criminosos eram marcados para que fossem identificados como maus elementos. Tempos depois, em meio a um forte clima de opressão dos governantes, organizações ostentavam tatuagens como símbolo de transgressão ao poder vigente. Assim, surgiu o famoso dragão da Yakusa, a máfia japonesa, imagem comum de muitas tatuagens no mundo.

Com todo esse contexto histórico, a tatuagem é vista, ainda hoje, como símbolo de rebeldia. O pastor Eduardo Silva, conhecido como pastor Edu, conviveu com muitos “irmãos tatuados” até gravar uma mensagem em seu braço e conta que recebeu com isso muitas críticas. Membro da igreja Renascer em Cristo, foi o primeiro a escrever em seu corpo, a frase “Renascer até morrer”.

“A minha motivação veio num momento em que a Igreja sofreu um forte ataque. A intenção dos que nos atacavam era na verdade o fechamento e extinção da Igreja Renascer, como se as portas do Inferno pudessem prevalecer contra a Igreja de Cristo. Muitas pessoas comentavam que a Igreja não sobreviveria a esse momento, isso foi em fevereiro de 2007.

Sou pastor desde janeiro de 1993, mas atuo no ministério desde jovem”, conta o Pr. Edu, que revela que a atitude trouxe grande repercussão: “Algumas positivas, outras violentamente negativas. O que me causa estranheza, é que a tatuagem afeta tão somente a minha vida.

No que diz respeito à minha comunhão com Deus ou santidade, não aumenta ou diminui. Mas, muitos foram contumazes em dizer que essa atitude era fruto de uma alienação, que éramos como gado marcado etc. Apenas entendo que não devemos julgar para não ser julgados!”.

Ele explica a iniciativa narrando a passagem bíblica de II Samuel 15:21: “Em meio à guerra, Davi contava com homens valentes como Itaí (II Sm 15,21), que estavam em aliança, para vida ou para a morte. Não adianta estar em aliança apenas quando tudo vai bem. Baseado nesse princípio é que muitos de nós escolhemos essa frase.

A igreja, corpo de Cristo, estava sendo atacada, o rebanho precisava ser protegido e pastoreado e algumas pessoas e instituições se esqueceram desse conceito de corpo! Como pastor, senti o desejo de deixar clara a minha posição em favor do rebanho”.


Para o reverendo Baggio, pessoas que consideram tatuagens símbolos de rebeldia estão “estacionadas no tempo”. ” Hoje em dia, tatuagem não tem absolutamente nada a ver com rebeldia, mas sim com estética. Sem dúvida que há preconceitos por parte de algumas pessoas (religiosas ou não), mas qualquer coisa pode ser passível de preconceito, principalmente expressões culturais. Preconceito é fazer um juízo superficial a partir de idéias ou conceitos pré-estabelecidos.

O profeta Samuel fez um ‘pré-conceito’ ao procurar ungir o futuro rei de Israel. Cristãos que seguem a Bíblia não deveriam fazer ‘pré-conceitos’ com relação à aparência das pessoas, mas infelizmente não é isso o que acontece.

Pessoas sofrem preconceitos por se vestirem de certa maneira, por causa do seu penteado (ou por não ter nenhum penteado) de cabelo, pelo modo como falam (se sua linguagem não for cheia de chichês evangeliquês, não é espiritual) etc.

Eu já sofri preconceitos por todas as coisas, mas geralmente depois que as pessoas me conhecem, elas percebem que tais coisas são superficiais e acabam deixando o preconceito de lado”, narra o reverendo. A segunda tatuagem de Baggio veio para cobrir a primeira. “Aquela velha tatuagem era bem “old school” e no ano passado decidi cobri-la com um novo desenho.

A velha tatuagem foi feita com um desenho de uma pomba e uma cruz e eu estava pensando do texto bíblico que diz que Cristo estabeleceu a paz por meio da cruz. A nova tatuagem é um desenho celta do ganso selvagem, o símbolo celta do Espírito Santo. O que esse desenho expressa para mim é a afirmação de que fui selado pelo Espírito e meu desejo profundo de viver a grande aventura da vida guiada por Ele”, expõe o líder do Projeto 242.


Mas, para o professor Carlos Vailatti, a tatuagem pode ser compreendia como elemento de rebelião: “Ela pode representar a aderência aos movimentos da contra-cultura, como, por exemplo, o movimento punk da década de 80, o qual estava associado com formas de protesto social e anarquismo.

Além disso, ela também pode ser vista como um símbolo anárquico dentro da própria igreja, de acordo com postura que certas denominações adotam com respeito a ela”.


Fazer-se Igual Para Ganhar os Diferentes?


Líder do Projeto 242, que tem como alvo missionário evangelizar pessoas marginalizadas socialmente, como: mendigos, prostitutas e dependentes químicos, Sandro Baggio não compreende a tatuagem ou outros visuais como agentes de evangelização. “Isso depende muito mais do testemunho de vida e caráter, no poder do Espírito Santo, do que na aparência”, aponta.

“Creio ainda que existem tatuagens que são puramente estéticas e muitos irmãos tatuados, são instrumentos para alcançar essas tribos ou grupos alternativos. Muitas pessoas que me perguntavam a respeito da tatuagem acabaram ouvindo a respeito da fé em Jesus e da obra que ele realizou em minha vida. Mas não quero usar esse argumento. Creio que devemos ter acima de tudo respeito e amor.

Só pra constar assim que possível vou fazer outra. Tatuados ou não, cabeludos ou não, com maquiagem ou sem, com brinco, com piercing, pentecostal ou tradicional, o que conta mesmo é sermos novas criaturas. No mais, vivamos em paz uns com os outros (I Ts 5,13)”, expressa o pastor da igreja Renascer em Cristo, Edu.


Para o cantor Rodolfo Arantes, o fato de ter tatuagens só o aproxima de outras pessoas tatuadas ou grupos alternativos, à medida que elas o enxergam com uma pessoa mais parecida com Cristo.”Cara, se tem alguma coisa em mim que possa ter atraído alguém, é mais pelas as pessoas que estão fora da igreja e estão vendo: ‘Pô, aquele cara todo tatuado tá pregando.

Aquele cara todo tatuado tá fazendo a obra de Deus, aquele cara todo tatuado está adorando Jesus com a guitarra na mão. Quer dizer que eu também posso?’. Eu creio que numa hora dessas, se tem algo que eu possa aproveitar, é mais por poder mostrar que Jesus Cristo renova todas as coisas e que não interessa quem você é, o que você fez, não interessa as marcas que você carrega.

Se você entregar sua vida para Deus, ele vai te usar [...] O link que a gente tem que ter com essas pessoas perdidas, com as pessoas que a gente quer alcançar, é o link do amor. Amar as pessoas independentemente das diferenças delas. Às vezes nos afastamos das pessoas que são diferentes, que estão afundadas em trevas, como se a gente tivesse que manter distância, como se fosse contagioso e não é, a gente é que é contagioso, é o nosso amor que vai mostrar se a gente é de Jesus ou não, eu acho que é muito mais por aí”, explica Rodolfo.

Para ele, quem busca Jesus está procurando novidade de vida: “Em tudo que eu já li a respeito de Jesus na Bíblia, eu nunca ouvi dizer que ele precisou se parecer com as prostitutas para falar do amor de Deus para elas.

Eu nunca o vi tendo que se parecer com o endemoninhado gadareno para falar de Jesus para ele. Tudo o que ele fazia é ser luz nas trevas, é isso o que a gente precisa. Quem faz a diferença na vida de uma pessoa é a Palavra de Deus e não qualquer artifício. Isso é uma estratégia humana muito da ‘mixuruca’ perto do que é o poder de Deus”.


Da mesma forma, o teólogo Vailatti entende que Jesus também interagiu com grupos alternativos e marginalizados de sua época, mas comportou-se de forma diferente.

“Acredito que a tatuagem pode sim auxiliar na evangelização de tais grupos, tomando como hipótese que aquele que os evangeliza também está tatuado. Isso cria uma identificação entre ambos. Porém, uma vez que o exemplo a ser seguido pelos cristãos é Cristo (cf. 1 Jo 2.6), temos que ter em mente que o que havia em Jesus que atraía as pessoas era justamente o fato dele ser “diferente”, e não “igual” aos demais.

Dito de outra forma, se Jesus vivesse em nossos dias ele certamente não precisaria se tatuar para evangelizar pessoas tatuadas, pelo mesmo motivo pelo qual também não precisou se tornar mendigo para proclamar o evangelho a estas pessoas.

Aliás, Jesus também interagiu com os “grupos alternativos” de sua época, tais como “as prostitutas, os leprosos, os mendigos e os coletores de impostos”, dentre outros, os quais, assim como os grupos alternativos de hoje, também eram marginalizados pela sociedade.

Todavia, o que atraía as pessoas em Jesus, entre tantas outras coisas, era o seu amor incondicional por elas, o seu respeito pelos excluídos da sociedade e a sua falta de preconceitos para com todos.

Jesus conquistava pessoas de todas as camadas sociais não porque se adaptasse a cada uma delas, mas sim porque ele continuava a ser ele mesmo dentro do pluralismo religioso, cultural e social de sua época.

Acredito que o nosso maior desafio nos dias de hoje seja evangelizar tais “grupos alternativos” (seja lá quais forem) sem, contudo, perder ou anular a nossa própria identidade”.


domingo, 26 de dezembro de 2010

Líderes não são maiores do que a graça de Deus

"Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia".
Ah, se todos nós, que somos considerados líderes, tirássemos as nossas máscaras e vivêssemos o discipulado em sua forma simples e bíblica. Ah, se abríssemos mão de certos caprichos, vaidades, presunção, arrogância, orgulho, farisaísmo, ostentação e viéssemos para a planície. Quanto ganhariamos! E a igreja também! Não generalizo, mas uso a linguagem da inclusão ao pensar que muitos de nós estamos de fato incorrendo nessa gravíssima falha. Sei que o desenvolvimento pessoal é parte do nosso crescimento. Mas considerar tudo o que conquistamos como esterco (tem lá o seu valor) é um dos princípios da vida cristã.

O que está em cena, aqui, não são as nossas conquistas em si mesmas, mas o pedestal, a glória humana, a fantasia, a hipocrisia, o aplauso e a consequente perda de referenciais. Achar que somos tudo, quando, na verdade, nada somos. Ou passar uma falsa humildade, que, no fundo, pretende que as pessoas olhem para nós e digam: "vocês são mesmo os tais!" Esse é o cerne. Quantas vezes pregamos e, ao final, nos sentimos frustrados, quando as pessoas não nos procuram para "elogiar" a nossa pregação! Quantas vezes chegamos de propósito atrasados ao culto para que a assistência nos olhe com admiração e, se não pode falar alto, pelo menos pense ou cochiche: "Está chegando o pregador!" Esse é o ponto.

Infelizmente, trazemos para a nossa realidade da fé um pouco (ou muito?) da herança católica que faz o povo olhar para os seus líderes como infalíveis. Estes, por sua vez, vestimos a farda com muita facilidade. A partir disso, passamos a ser os reis da cocada preta (sem racismo, por favor. Pode ser branca também!). Até na forma de andar, gesticular ou fazer alguns trejeitos, expomos a aura da infalibilidade que tanto massageia o nosso ego. Não conseguimos ser simples, e, se tentamos aparentar simplicidade, fazemos de maneira tão afetada que logo transparece a prepotência. Como neste conhecido bordão: "Fulano é tão humilde que tem orgulho da sua humildade".

Só que a casa cai. Não há arrogância que dure para sempre. De tempos em tempos, para a nossa tristeza (e também aprendizado), surge uma nova notícia, dando conta do fracasso de um líder, que muitos o tinham como o grande referencial e o tratavam, não com o respeito que todos merecem, mas com idolatrada veneração. Podemos chegar a este ponto, quando perdemos os nossos limites. Quando achamos que não temos de prestar contas a ninguém. Quando nos colocamos no pedestal acima dos "simples mortais". Quando não nos reconhecemos como o principal dos pecadores, à semelhança de Paulo. Quando deixamos de olhar as "nossas justiças como trapos da imundícia". Quando achamos que somos maiores do que a graça de Deus. Quando o pecado torna-se apenas um detalhe que não nos importa em nosso dia a dia. Quando, por confiar em nossa autossuficiência, não buscamos ajuda em nossos momentos de fragilidade.

Creio que Deus permite a exposição de alguns dentre nós, trazendo à tona todos os apetrechos escondidos no seu coração, para que o povo perca essa visão "divinizada" da liderança, e nós, que somos tidos em tal condição, possamos humildemente dizer como João Batista: "É necessário que ele cresça e que eu diminua", ou como Paulo: "Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" Ao contemplarmos tais situações, por outro lado, nossa atitude deveria ser a de vestir-nos de sacos e assentar sobre as cinzas para chorar os nossos pecados pessoais e coletivos, orar pela restauração de quem está sendo tratado pelo Senhor e, com inteireza de coração, nos expormos aos braços amoráveis do Pai para deixar de ser sustentados pelas nossas próprias pernas.

Líderes são necessários na igreja desde os primeiros dias do Cristianismo. Atos dos Apóstolos descreve a sua existência. As epístolas tratam de forma clara o assunto. Mas não formam casta especial. Privilegiada. Com alguns galões que possam distingui-los dos demais crentes em sua relação com Deus. Não são pequenos deuses para ser glorificados pelos homens. São modelos, inclusive na fraqueza, para que possam pelo exemplo mostrar aos que lideram, no mesmo nível, que só pela graça - unicamente e apenas pela graça - sem qualquer outro privilégio, podem superar as falhas e buscar a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. E aí todos saberão que ninguém é melhor do que ninguém ou ocupa lugar especial à direita ou a esquerda do trono de Deus.

Somos humanos, fracos, faliveis, necessitados, dependentes, incapazes em nós mesmos, para os quais o Senhor, que enfrentou todas as nossas fraquezas em sua humanidade, pode dizer: "A minha graça te basta".